Imagens de câmeras de segurança rodoviárias de 24 de novembro mostram um veículo Tesla Model S mudando de faixa e, em seguida, freando de forma abrupta na última pista da esquerda na San Francisco Bay Bridge, provocando a colisão de oito veículos. O acidente feriu nove pessoas, incluindo uma criança de 2 anos, e bloqueou o tráfego na ponte por mais de uma hora.
O vídeo e as novas fotografias do acidente, obtidas pelo Intercept por meio de uma solicitação da Lei de Registros Públicos da Califórnia, trazem a primeira visão clara do que aconteceu no dia 24 de novembro, confirmando os depoimentos de testemunhas na época. O motorista disse à polícia que estava usando o novo recurso “Full Self-Driving” do Tesla, conforme a ocorrência, antes do “sinal para a esquerda do Tesla ser ligado” e seus “freios serem ativados”, dirigindo-se para a faixa da esquerda, “reduzindo até parar diretamente no caminho [de um segundo veículo].”
Poucas horas antes do acidente, o CEO da Tesla, Elon Musk, fez um anúncio comemorando que o recurso “Full Self-Driving” da Tesla estava disponível na América do Norte, parabenizando os funcionários da empresa pelo “importante marco”. No final do ano passado, a Tesla lançou o recurso para mais de 285 mil pessoas na América do Norte, de acordo com a empresa.
A Administração Nacional de Segurança do Tráfego em Autoestradas, ou NHTSA na sigla em inglês, afirmou que está iniciando uma investigação sobre o incidente. Os veículos da Tesla que usam seu sistema “Autopilot” de assistência ao motorista – o modo “Full Self-Driving” tem um conjunto expandido de recursos além do “Autopilot” – estiveram envolvidos em 273 acidentes registrados de julho de 2021 a junho de 2022, de acordo com dados da NHTSA. Os números mostram que os Teslas foram responsáveis por quase 70% das 329 colisões nas quais os sistemas avançados de assistência ao motorista estiveram envolvidos, bem como a maioria das mortes e ferimentos graves associados a eles. Desde 2016, a agência federal investigou um total de 35 acidentes nos quais os sistemas “Full Self-Driving” ou “Autopilot” da Tesla provavelmente estavam em uso. No total, esses acidentes mataram 19 pessoas.
Nos últimos meses, vieram à tona uma série de relatos nos quais motoristas de veículos Tesla reclamaram da “frenagem fantasma” repentina, que faz o carro acionar o freio em alta velocidade. Mais de 100 dessas queixas foram registradas na NHTSA em um período de três meses, segundo o Washington Post.
A criança ferida no acidente tinha 2 anos e sofreu uma escoriação na parte de trás do lado esquerdo da cabeça, bem como um hematoma, conforme o relatório detalhado do incidente obtido pelo Intercept. Em uma fotografia do acidente, um carrinho de bebê está parado em frente ao carro em que a criança se feriu.
À medida que os fabricantes de carros tradicionais entram no mercado de veículos elétricos, a Tesla está cada vez mais sob pressão para se diferenciar. No ano passado, Musk afirmou que o desenvolvimento do recurso “Full Self-Driving” pela Tesla era “essencial”, chegando a dizer que “é a diferença entre a Tesla valer muito dinheiro ou basicamente zero.”
O termo “Full Self-Driving”, que significa “piloto totalmente automático”, foi criticado por outros fabricantes e representantes da indústria como sendo enganoso e até mesmo perigoso. No ano passado, a empresa de tecnologia de direção autônoma Waymo, de propriedade da controladora do Google, anunciou que não usaria mais o termo.
“Infelizmente, vemos que algumas montadoras usam o termo ‘piloto-automático’ de maneira imprecisa, dando aos consumidores e ao público em geral uma falsa impressão dos recursos da tecnologia de assistência ao motorista (que não é totalmente autônoma),” a Waymo escreveu em uma postagem de blog. “Essa falsa impressão pode levar alguém a assumir riscos sem saber (como tirar as mãos do volante), o que pode comprometer não apenas sua própria segurança, mas também a segurança das pessoas ao seu redor.”
Embora a Waymo não cite nenhum nome, a declaração foi “claramente motivada pela controversa decisão de Musk de usar o termo ‘Full Self Driving'”, conforme o site The Verge.
Na mesma linha, o principal grupo de lobby para carros autônomos recentemente mudou seu nome de “Coalizão da direção autônoma para ruas mais seguras” para “Associação da indústria de veículos autônomos”. A mudança, conforme o grupo, reflete seu “compromisso com a precisão e consistência na forma como a indústria, os formuladores de políticas, os jornalistas e o público falam sobre a tecnologia de condução autônoma.”
O Secretário de Transporte do governo federal dos EUA, Pete Buttigieg, também criticou as novas tecnologias de assistência ao motorista, enfatizando que elas não substituíram a necessidade de um condutor humano em estado de alerta. “Vou continuar dizendo isso até cansar: tudo o que você pode comprar no mercado hoje é uma tecnologia de assistência ao motorista, e não uma tecnologia de substituição do motorista”, disse Buttigieg. “Eu não me importo como essa tecnologia é chamada. Precisamos ter certeza de que estamos sendo claros sobre isso, mesmo que as empresas não o sejam.”
Embora os termos possam estar evoluindo, ainda não há restrições federais sobre o teste de veículos autônomos em vias públicas, embora os estados tenham imposto limites em certos casos. A Tesla não anunciou nenhuma mudança no programa ou em sua publicidade, mas o acidente foi mais um entre os vários ocorridos naquele mês. Vários dias antes do acidente na Bay Bridge, em 18 de novembro em Ohio, um Tesla Model 3 bateu em uma SUV da Patrulha Rodoviária do Estado de Ohio, que estava parada e com as luzes de perigo piscando. Aquele veículo Tesla também é suspeito de estar em modo autônomo e está sendo investigado pela NHTSA.
A NHTSA também está investigando um tuíte de Musk no qual ele disse que os usuários “Full Self-Driving” em breve teriam a opção de desativar as notificações de lembrete para que os motoristas mantenham as mãos no volante. “Usuários com mais de 10 mil milhas no FSD Beta deveriam ter a opção de desligar o volante”, postou um usuário do Twitter na véspera de Ano Novo, marcando Musk.
“Concordo, a atualização será em janeiro”, respondeu Musk.
Tradução: Antenor Salvodi Jr.
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